A Câmara Municipal de Sorocaba tem assinaturas suficientes para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará contratos da Secretaria da Saúde sob suspeita de corrupção. A medida foi articulada após a Polícia Federal apontar o prefeito afastado Rodrigo Manga como líder de um esquema de desvio de recursos públicos por meio de contratos fraudulentos e lavagem de dinheiro.
A decisão representa uma virada política na Casa, que por cinco vezes havia rejeitado a abertura de uma comissão para apurar as denúncias. A CPI ganhou força cinco dias após o afastamento de Manga, determinado pela Justiça Federal no âmbito da operação Copia e Cola, que apura desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro.
O movimento começou com a adesão de nove vereadores, mas ganhou impulso no início da noite, quando parlamentares da base governista também decidiram assinar o pedido. Em poucas horas, o número de apoios subiu para 24 dos 25 vereadores da Casa — apenas o presidente da Câmara, pastor Luís Santos (Republicanos), ficou de fora por impedimento regimental.
Os vereadores que assinaram
As primeiras assinaturas vieram de Dylan Dantas (PL), autor do pedido de CPI, seguido por Tatiane Costa (PL) e Roberto Freitas (PL). Em seguida, a oposição também confirmou apoio à comissão, com Izídio de Brito (PT), Iara Bernardi (PT), Fernanda Garcia (PSOL) e Raul Marcelo (PSOL). Esses sete nomes já defendiam a apuração desde abril, logo após a primeira fase da operação da Polícia Federal.
A adesão decisiva veio nesta terça-feira (11), com as assinaturas de Henri Arida (MDB), Jussara Fernandes (Republicanos) e Ítalo Moreira (União Brasil). O trio contrariou a orientação dos seus partidos, que horas antes haviam divulgado nota oficial contrária à criação da CPI.
Após o mínimo de nove assinaturas ser atingido, outros quinze vereadores decidiram também apoiar a investigação. Foram eles:
Cláudio Sorocaba (PSD); Fábio Simoa (Republicanos); Caio Oliveira (Republicanos); Rafael Militão (Republicanos); Silvano Júnior (Republicanos); Cristiano Passos (Republicanos); João Donizeti (União Brasil); Cícero João (Agir); Rogério Marques (Agir); Toninho Corredor (Agir); Fernando Dini (PP); Alexandre da Horta (Solidariedade); Fausto Peres (Podemos); Rodolfo Ganem (Podemos) e o próprio Ítalo Moreira (União Brasil), que havia confirmado o apoio mais cedo.
Com isso, 24 parlamentares constam oficialmente na lista de signatários da CPI da Saúde.
Quem não assinou
O único vereador que não assinou o documento foi o presidente da Câmara, pastor Luís Santos (Republicanos), impedido pelo regimento interno de participar formalmente do pedido.
Mudança de postura e recuo de partidos
A adesão em massa surpreendeu até mesmo os parlamentares mais experientes. No início da tarde, os diretórios municipais de Republicanos, AGIR, PSD, Podemos, MDB, Solidariedade e União Brasil haviam divulgado nota conjunta afirmando que não apoiariam a abertura de uma CPI da Saúde “neste momento”. Menos de seis horas depois, praticamente todos os vereadores dessas siglas já haviam assinado o pedido.
Henri Arida foi o primeiro a romper com a orientação partidária. “A minha principal bandeira é a saúde pública, e meu compromisso é com o cidadão. Avaliei, dialoguei e cheguei à conclusão de que deveria validar minha assinatura”, afirmou o vereador em vídeo publicado nas redes sociais.
Jussara Fernandes, do mesmo partido de Rodrigo Manga, também confirmou a assinatura, mas preferiu não se manifestar publicamente. Ítalo Moreira, por sua vez, disse ter atendido “ao clamor popular” ao apoiar a investigação.
CPI terá amplos poderes de investigação
Com a confirmação das assinaturas, a Câmara deverá agora definir os cinco membros da CPI e escolher quem será o presidente e o relator. A comissão terá poderes para requisitar documentos públicos, realizar vistorias em repartições municipais, convocar secretários, servidores e fornecedores para depor, e solicitar perícias técnicas.
Ao final dos trabalhos, os resultados deverão ser encaminhados ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Cenário político em ebulição
A formação da CPI da Saúde consolida uma das maiores reviravoltas políticas da atual legislatura. A base governista, que até a semana passada resistia a qualquer tentativa de investigação, praticamente se desfez em questão de horas.
A decisão ocorre num momento de forte pressão popular e amplia o isolamento político de Rodrigo Manga, afastado do cargo por determinação da Justiça Federal por suspeita de chefiar uma organização criminosa que teria desviado recursos públicos da saúde.
Com o avanço das investigações, a CPI promete ser o principal foco político de Sorocaba nos próximos meses — e pode definir o rumo do cenário político local e o futuro do próprio prefeito afastado.
