O Estado de São Paulo intensificou, nesta terça-feira (30), as ações contra a falsificação e adulteração de bebidas alcoólicas após a confirmação de mortes relacionadas ao consumo de produtos contaminados por metanol. A Polícia Civil deflagrou uma operação em Americana, no interior, que resultou na apreensão de 17,7 mil garrafas falsificadas e na prisão de duas pessoas. Paralelamente, o governador Tarcísio de Freitas anunciou a criação de um gabinete de crise para coordenar as medidas emergenciais.
A investigação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) revelou que uma chácara na zona rural de Americana servia como fábrica clandestina para produção de uísque, gim e vodca. No local, foram localizados recipientes para envase, garrafas vazias e rótulos. Embora não tenha sido encontrado metanol no material apreendido, a polícia destacou que a estrutura abastecia não só o comércio local, mas também estabelecimentos da capital.
Segundo o delegado Wagner Carrasco, a apuração vinha sendo feita há mais de um mês. “A fábrica era muito bem estruturada e tinha capacidade de distribuição ampla. Agora, seguimos investigando para identificar outros envolvidos no esquema”, disse.
Além da operação no interior, a Secretaria de Saúde e a Vigilância Sanitária fiscalizaram bares e adegas em bairros da capital, como Jardins e Mooca. Nos três locais vistoriados, 117 garrafas sem rótulo ou comprovação de procedência foram apreendidas, e dois estabelecimentos autuados por irregularidades.
Gabinete de crise e medidas emergenciais
Diante do avanço dos casos de intoxicação, o governador Tarcísio de Freitas anunciou a criação de um gabinete de crise envolvendo as áreas de Justiça, Saúde, Segurança Pública, Desenvolvimento Econômico, Comunicação e a Prefeitura de São Paulo.
Entre as medidas anunciadas estão:
- Interdição cautelar de estabelecimentos suspeitos até que a documentação seja comprovada;
- Cinco inquéritos em andamento sobre o caso;
- Reflexo imediato na rede de saúde, com capacitação de profissionais para diagnóstico rápido e uso de antídotos;
- Fortalecimento dos canais de denúncia, pelo 181 da Polícia Civil e pelo site do Procon-SP;
- Reunião com associações de bares e restaurantes para reforçar a fiscalização.
Balanço e casos confirmados
De acordo com o Centro de Vigilância Sanitária (CVS), desde junho foram confirmados sete casos de intoxicação por metanol, com suspeita de consumo de bebida adulterada, e cinco mortes – uma na capital e quatro em análise na Grande São Paulo. Outros 15 casos estão sob investigação.
A Polícia Civil já apreendeu neste ano mais de 14 milhões de itens relacionados a falsificação de bebidas e prendeu ao menos 20 pessoas. Apenas em setembro, foram realizadas 43 mil fiscalizações em estabelecimentos comerciais no estado.
Nesta terça-feira, além da ação em Americana, as forças de segurança apreenderam 50 mil garrafas adulteradas e identificaram 15 milhões de selos falsificados, usados para dar aparência de legalidade às bebidas clandestinas.
Risco à saúde
Especialistas reforçam que o metanol é altamente tóxico e pode provocar sintomas graves poucas horas após a ingestão, como dor abdominal, tontura, sonolência e visão turva. Nos casos mais graves, há risco de cegueira irreversível e morte.
“O atendimento rápido é fundamental. Se o paciente for socorrido nas primeiras horas, o antídoto pode neutralizar os efeitos. Quanto mais demorar, maior o risco de sequelas permanentes”, explicou o secretário de Saúde, Eleuses Paiva.
Orientações e denúncias
O CVS orienta consumidores a comprarem apenas bebidas com rótulo, lacre e selo fiscal de fabricantes reconhecidos, evitando produtos de procedência duvidosa.
Denúncias sobre bebidas adulteradas podem ser feitas pelos canais oficiais:
- Disque Denúncia 181 ou pelo site da Polícia Civil (www.webdenuncia.sp.gov.br);
- Procon-SP pelo telefone 151 ou no site www.procon.sp.gov.br.