Um possível surto de febre maculosa tem deixado em alerta os moradores da localidade de Jurumirim, em Salto, após a morte de pai e filho com suspeita da doença em um intervalo de menos de 20 dias. As vítimas, identificadas como Messias Luiz da Costa, de 67 anos, e o filho, Franciel Matos, de 33, viviam em uma área ocupada às margens do Rio Tietê, nas proximidades do bairro Porto Góes, sob um pontilhão utilizado por trens da concessionária Rumo.
A comunidade, composta por cerca de 15 famílias, enfrenta uma infestação de carrapatos-estrela que, segundo os moradores, tomou conta das casas e dos animais. “As paredes ficam cheias de carrapatos. A gente tenta limpar, passar cal, mas eles voltam. Estamos com medo de morrer também”, relatou um morador ao Expresso.
O primeiro caso ocorreu em 14 de setembro, quando Messias procurou o Hospital Municipal Nossa Senhora do Monte Serrat apresentando febre alta e dores no corpo. Liberado com diagnóstico de virose, ele retornou dias depois em estado mais grave e acabou falecendo. Quinze dias após a morte do pai, Franciel apresentou os mesmos sintomas e também não resistiu.
Moradores afirmam que outros vizinhos começaram a sentir febre e dores pelo corpo. Um deles chegou a receber prescrição de medicamento contra febre maculosa, mas não encontrou o remédio nas farmácias da cidade.
Diante da situação, o vereador Edemilson Santos (Podemos) enviou ofícios à Prefeitura de Salto solicitando ações emergenciais de controle do surto. Ele pede que o município amplie a aplicação do agente biológico usado contra o carrapato-estrela e conceda Aluguel Social temporário às famílias da região, até que o local seja considerado seguro. Segundo o parlamentar, a última aplicação foi restrita às áreas externas e considerada insuficiente pelos moradores.
Em nota, a Prefeitura de Salto informou que apenas uma morte por febre maculosa foi confirmada oficialmente em 2025 e que as mortes recentes ainda estão sob investigação pelo Instituto Adolfo Lutz. A Secretaria de Saúde afirma estar monitorando a região e analisando novas medidas de combate e prevenção.
Dados do Ministério da Saúde apontam que Salto notificou 27 casos da doença neste ano, com um confirmado até o momento. Em São Paulo, foram registrados 24 casos confirmados e 13 mortes — mais da metade de todos os óbitos contabilizados no país em 2025.
A febre maculosa é uma doença grave causada por bactéria transmitida pela picada do carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), comum em cavalos, capivaras e cães. Os sintomas surgem de dois a 14 dias após a infecção e incluem febre alta, dores musculares, fraqueza e manchas avermelhadas nas mãos e nos pés, que se espalham rapidamente pelo corpo.
Especialistas em saúde pública alertam que a rapidez no diagnóstico é essencial para evitar complicações. Quem frequentou áreas de risco e apresentar sintomas deve procurar atendimento médico imediato e informar o possível contato com carrapatos.
Ambientalistas reforçam que o aumento dos casos está relacionado ao desequilíbrio ecológico e ao crescimento urbano desordenado, que aproximam pessoas de áreas com presença de animais hospedeiros da bactéria, como capivaras e gambás.
Enquanto aguardam novas ações da Prefeitura, os moradores de Jurumirim convivem com o medo e a incerteza. “A gente só quer que olhem por nós antes que mais alguém morra”, desabafa uma moradora.
