Donald Trump vence Kamala Harris e voltará à Casa Branca após 4 anos

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O republicano Donald Trump será o próximo presidente dos Estados Unidos após conquistar mais de 270 delegados no colégio eleitoral, segundo projeção não oficial, mas historicamente aceita, feita por serviço elaborado por estatísticos a pedido de institutos e meios de comunicação. A vitória foi cravada às 7h32 (horário de Brasília), quando o republicano garantiu 276 delegados.

Nos Estados Unidos, a apuração é de responsabilidade de cada estado, ou seja, a contagem pode demorar semanas. Com isso, a projeção permite saber com antecedência quem será o vencedor. Vitórias na Geórgia e na Pensilvânia foram decisivas.

Vencedor em 2016, o magnata perdeu as eleições de 2020 para Joe Biden e volta à Casa Branca após 4 anos, consolidando-se como “dono” da direita norte-americana. O vice-presidente é JD Vance.

O novo governo prometeu aprofundar o corte de impostos, reduzir a inflação, recuperar a indústria americana e adotar políticas duras contra produtos chineses. A campanha também foi marcada por promessas de realizar a maior deportação de estrangeiros da história americana e fechar as fronteiras contra imigrantes.

Denunciado pela vasta proliferação de desinformação e ataque xenófobos, Trump volta para a Casa Branca quatro anos depois de ser derrotado para Joe Biden usando a frágil situação econômica do país como cabo eleitoral.

Como foi a campanha

Em cada um de seus comícios, ele abria da mesma forma: “vocês estão melhores agora ou quando eu era presidente?”

O apelo à situação sócio-econômica reverberou inclusive entre latinos e afroamericanos, tradicionais eleitores dos democratas. Nem mesmo suas condenações e investigações por crimes impediram seu retorno.

Ainda que tenha sido amplamente rejeitado pelas mulheres, ele também recorreu à guerra cultural, prometendo “anos dourados aos cristãos” e “acesso direto” desses líderes religiosos ao Salão Oval.

Trump rejeitou condenar os responsáveis pelos ataques ao Capitólio, em 2021, chamou a invasão de “dia do amor” e insinuou que poderia usar as forças armadas contra o “inimigo de dentro”, numa referência a qualquer movimento que questione suas políticas.

O uso das redes sociais e o apoio de Elon Musk na difusão de teorias conspiratórias foram marcas de sua campanha. A radicalização de seu discurso conseguiu levar às urnas uma parcela da população que, em 2020, não havia saído de casa para votar.

Donald Trump sofreu atentado atentado em 13 de julho
Donald Trump sofreu atentado atentado em 13 de julhoImagem: Reuters

A disputa foi marcada por um atentado contra Trump. Em 13 de julho, ele foi atingido na orelha enquanto discursava em Butler, na Pensilvânia. O atirador, Thomas Matthew Crooks, 20, foi morto por agentes do Serviço Secreto. Em 15 de setembro, outro homem foi preso acusado de planejar matar o republicano próximo a campo de golfe onde Trump, na Flórida. Em 13 de outubro, mais um homem foi preso por supostamente preparar um atentado, mas alegou que era apoiador de Trump.

O que esperar

Redução de inflação, corte de impostos e protecionismo devem virar prioridade. No primeiro mandato, o republicano prometeu tirar os EUA do Acordo de Paris. Agora quer cortar custos de energia expandindo a perfuração de petróleo e gás, estender o corte de impostos que ele assinou no primeiro mandato, e voltar ao protecionismo: defendeu taxar de 10% a 20% todas as importações e tarifar em mais de 60% produtos chineses. Em resposta, o chefe do IIF (Instituto Finanças Internacionais), Tim Adams, disse que essa imposição de tarifas pode aumentar a inflação e os juros.

Ele deve tentar acabar com qualquer traço de política climática ‘verde’ e recolocar a produção de petróleo e gás no centro da economia. Sua agenda econômica deve seguir sendo pautada por cortes de impostos e desregulamentação. João Cândido, especialista em análise de risco e comunicação política

Comunidade internacional em alerta por política externa. “Ele já deixou claro que pretende reformular a participação dos EUA em alianças tradicionais, como a Otan, e realinhar o país em termos de comércio e geopolítica”, ressaltou Cândido. Sem detalhar, Trump disse algumas vezes que acabaria “rapidamente” com a guerra entre Ucrânia e Rússia, caso fosse eleito. Ele pode reavaliar o financiamento ao conflito.

Os EUA rediscutindo essa tendência de apoiar a Ucrânia pode forçar Volodymyr Zelensky a abrir uma negociação mais efetiva visando encerrar o conflito.Adriano Cerqueira, professor de relações internacionais do Ibmec-BH

Trump e Zelensky
Trump e ZelenskyImagem: AFP

Menos direitos civis e pressão contra estrangeiros. Assim como no primeiro mandato, o discurso xenófobo deve ser muito explorado. Trump chegou a citar a “Lei dos Inimigos Estrangeiros”, de 1978, para defender uma deportação em massa de imigrantes. “Questões como imigração e políticas de direitos civis provavelmente serão ainda mais polarizadas, já que Trump se sente empoderado pela sua base. Podemos esperar menos compromisso com convenções democráticas, o que só aumentará o grau de tensão no país”, avaliou João Cândido. “Os EUA devem assumir uma postura mais agressiva nas fronteiras, um endurecimento na questão da imigração, principalmente a ilegal”, completa Cerqueira.

Trump vira “grande líder da direita” mundial. “Vai ser importante para o reforço da identidade de movimentos de direita e também de movimentos conservadores”, ressaltou o professor do Ibmec-BH. “Para a direita americana, é a coroação de uma transformação ideológica, onde as pautas tradicionais de livre mercado e intervenção estrangeira dão lugar a uma política de identidade e nacionalismo”, completa Cândido.

Vitória de Trump é um sinal claro de que o movimento populista e nacionalista está longe de desaparecer. Líderes populistas em outros países – de Viktor Orbán na Hungria a Jair Bolsonaro no Brasil [caso faça um retorno] – passam a ver isso como uma legitimação de suas próprias agendas.

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