Editorial: O silêncio de Lula com o “tarifaço” da Venezuela sobre o Brasil com taxas de até 77% — A conta (cara) da amizade ideológica

A Venezuela decidiu impor, de forma unilateral e sem aviso prévio, tarifas de importação que chegam a 77% sobre produtos brasileiros. A medida atropela acordos comerciais vigentes, ignora protocolos diplomáticos e fere diretamente o setor produtivo brasileiro — especialmente o Estado de Roraima, cuja economia depende majoritariamente das exportações ao país vizinho.

Diante disso, uma pergunta inevitável ecoa: onde está o governo federal? Onde está a indignação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

Quando os Estados Unidos anunciaram uma taxa de 50% sobre veículos elétricos chineses — medida que nem sequer atingia o Brasil —, Lula foi às câmeras, aos microfones e aos palanques para acusar Washington de protecionismo, injustiça e ameaça à liberdade econômica. Com tom inflamado, condenou a política comercial americana como um retrocesso.

Agora, quando um “parceiro ideológico”, como ele próprio definiu Nicolás Maduro, ataca diretamente o Brasil, impõe taxas abusivas e prejudica milhares de trabalhadores e empresários brasileiros, o que vemos? Silêncio. Constrangedor silêncio.

A retórica combativa usada contra os Estados Unidos desaparece quando a afronta parte de Caracas. Não houve, até agora, um único pronunciamento firme, uma nota de repúdio, um gesto de defesa do interesse nacional por parte do Planalto. A diplomacia brasileira — que deveria atuar com equilíbrio, independência e assertividade — parece paralisada, refém de afinidades partidárias.

A situação é ainda mais grave quando se observa que os produtos taxados, como margarina, óleo de soja, farinha de trigo e derivados de cana, sustentam cadeias produtivas inteiras em Roraima e em outros estados. Empresários já suspendem envios, contratos estão sendo interrompidos, e a competitividade brasileira está sendo corroída — tudo isso em nome de uma aliança política que, ao que parece, só serve a um dos lados.

Desde 2014, o Brasil mantém com a Venezuela o Acordo de Complementação Econômica nº 69, que isenta centenas de produtos de tarifas mediante a emissão de certificados de origem. O que se vê agora é o desrespeito escancarado desse pacto, sob os olhos cúmplices de um governo brasileiro que se recusa a enxergar o óbvio: a Venezuela de Maduro não é confiável — nem como parceiro comercial, nem como aliado diplomático.

Roraima não pode pagar a conta de alianças ideológicas mal calculadas. O Brasil não pode se calar diante de uma violação desse porte. E Lula não pode — ou não deveria — ter dois pesos e duas medidas: um tom duro para os Estados Unidos e outro, submisso, para a Venezuela. Coerência também é um valor diplomático.

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