Patrulha Maria da Penha começa a atuar em Iperó, mas Prefeitura evita responder perguntas-chave sobre o serviço

Com a promessa de ampliar a rede de proteção às mulheres em situação de violência, a Prefeitura de Iperó anunciou, no último dia 19, a implantação da Patrulha Maria da Penha. A ação, conduzida pela Guarda Civil Municipal (GCM) em parceria com as Secretarias de Saúde e de Assistência e Desenvolvimento Social, visa monitorar o cumprimento de medidas protetivas, além de oferecer apoio e orientação às vítimas.

O funcionamento da patrulha foi divulgado com certo entusiasmo pela administração municipal: duas equipes durante o dia, de segunda a sexta-feira, e uma equipe noturna. Todas as viaturas são caracterizadas para este serviço, que promete atuar na linha de frente contra a violência doméstica no município.

Apesar da importância da iniciativa — e disso ninguém discorda —, algumas questões relevantes seguem sem respostas. O Jornal Expresso, buscando esclarecer pontos fundamentais para a população, questionou a Prefeitura de Iperó sobre dados operacionais e estruturais da Patrulha Maria da Penha. Até o fechamento desta edição, nenhum retorno foi dado.

A gestão municipal foi questionada, por exemplo, sobre quantas mulheres estão atualmente sendo acompanhadas pela Patrulha desde sua criação. Um dado básico, essencial para medir o alcance e a efetividade do serviço, mas que a Prefeitura preferiu não informar.

Outro ponto sensível é a ausência de atendimento nos fins de semana e feriados. Afinal, quem garante proteção às vítimas nesses períodos? Há, sequer, previsão de ampliação da equipe ou da cobertura dos plantões? Silêncio novamente.

Também não houve resposta sobre como é feito o monitoramento das medidas protetivas: se é exclusivamente presencial, se há tecnologia envolvida ou se o município ainda carece de estrutura para isso. Perguntas que deveriam ser respondidas de forma clara e objetiva, afinal, tratam da segurança de mulheres que vivem sob risco.

O Jornal Expresso quis entender ainda quais os critérios que definem quais mulheres têm direito ao acompanhamento da patrulha. A falta de clareza nesse ponto levanta preocupações: todas as vítimas com medidas protetivas estão sendo de fato acompanhadas ou há limitações operacionais?

E mais: além da atuação da Guarda, que tipos de suporte psicológico, social e jurídico são oferecidos? Há equipe técnica suficiente? Psicólogos, assistentes sociais, advogados? Ou a patrulha se resume, na prática, apenas ao aspecto ostensivo?

Outra questão ignorada pela Prefeitura é o contexto que levou à criação do serviço. Iperó registrou aumento nos casos de violência contra a mulher? Quais são os dados oficiais? O silêncio da gestão municipal, mais uma vez, ecoa mais alto do que as sirenes da nova viatura da Patrulha.

A coordenadora da Patrulha, GCM Classe Distinta Hortência, e o telefone exclusivo para denúncias — (15) 99727-2526 — foram amplamente divulgados. Mas, sem informações concretas sobre a real estrutura do serviço, a pergunta que fica é: a Patrulha Maria da Penha, em Iperó, é uma política pública robusta e efetiva ou apenas uma resposta pontual, criada mais para constar no discurso institucional do que para enfrentar, de fato, o problema?

O espaço segue aberto para manifestação da Prefeitura Municipal de Iperó.

ATUALIZAÇÃO – 24/05/2025 11:40h

Após repercussão, Prefeitura de Iperó responde aos questionamentos do Jornal Expresso sobre a Patrulha Maria da Penha

Após a repercussão da matéria publicada pelo Jornal Expresso, que trouxe questionamentos importantes sobre o funcionamento da recém-implementada Patrulha Maria da Penha em Iperó, a Prefeitura finalmente respondeu aos questionamentos da reportagem.

As perguntas foram enviadas na quarta-feira (21), com reforço na quinta-feira (22). A matéria foi publicada na manhã de sexta-feira (23), às 10h38, justamente pela ausência de respostas até aquele momento. Apenas após a publicação, às 16h25 do próprio dia 23, a Prefeitura de Iperó encaminhou as respostas solicitadas.

O Jornal Expresso considerou fundamental ouvir a gestão municipal, já que o tema envolve diretamente a segurança e proteção das mulheres em situação de vulnerabilidade no município.

Respostas da Prefeitura de Iperó sobre a Patrulha Maria da Penha

  1. Quantas mulheres, atualmente, estão sendo acompanhadas pela Patrulha Maria da Penha em Iperó desde o início da operação?
    Resposta: Desde o início do programa, no mês de maio, 5 casos foram atendidos.
  2. Existe previsão de ampliação do serviço, tanto no número de equipes quanto na cobertura para os finais de semana e feriados?
    Resposta: Para a ampliação de serviço, os órgãos secretariais envolvidos considerarão a demanda sinalizada pelos equipamentos, instituições e poderes articulados (ex.: CREAS, CAPS, UBSs, Prontos Atendimentos, GCM, Polícia Civil e Judiciário).
  3. De que forma é realizado o monitoramento do cumprimento das medidas protetivas — é presencial, eletrônico ou ambos?
    Resposta: O atendimento mencionado segue o seguinte fluxo: o anexo de violência doméstica do Fórum de Boituva encaminha a cópia da medida protetiva para o CREAS, a SADS, o CAPS e, agora, para a Patrulha Maria da Penha. O CREAS realiza especificamente o acompanhamento psicossocial da mulher em situação de violência doméstica para que ela se restabeleça em sua rotina e, com apoio, supere a violência sofrida; são realizados encaminhamentos para a saúde quando necessário, bem como acesso a benefícios em âmbito municipal e estadual. O agressor é atendido pontualmente na SADS e a GCM dá apoio para garantir a segurança e proteção. Em caráter preventivo, existe o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para as Mulheres, com intuito informativo e para identificar comportamentos e atitudes que caracterizem os diversos tipos de violência, bem como os recursos de proteção.
  4. Quais são os critérios para uma mulher ter acesso ao acompanhamento da Patrulha Maria da Penha em Iperó?
    Resposta: Conforme previsto na Lei Municipal nº 1.202/2025, o atendimento é feito às mulheres que obtiveram medida protetiva pelo poder judiciário, sem prejuízo de encaminhamentos com escopo preventivo, por parte do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS).
  5. Além da atuação da Guarda Municipal, que tipos de suporte psicológico, social e jurídico a Prefeitura oferece às vítimas por meio dessa iniciativa?
    Resposta: Além da atuação da GCM, o suporte psicossocial se dá através do CREAS, que é o órgão de referência para realizar o acompanhamento e prestação de serviços à mulher em situação de violência, podendo haver ainda a articulação com o CAPS, UBSs, Prontos Atendimentos, GCM, Polícia Civil e Judiciário.
  6. Qual é o índice de procura, atualmente, de mulheres que buscam apoio na GCM em situações relacionadas à Lei Maria da Penha?
    Resposta: De janeiro a maio foram registradas e atendidas pela GCM 16 ocorrências de violência doméstica. Cinco destas ocorrências, ocorridas em maio (após a criação da Patrulha Maria da Penha), já foram atendidas no âmbito do programa.
  7. O município de Iperó tem registrado um aumento nos casos de agressões contra mulheres, e esse cenário foi determinante para a criação da Patrulha Maria da Penha?
    Resposta: A criação do Programa Patrulha Maria da Penha não decorre da quantidade ou aumento de casos de violência doméstica, mas do alinhamento entre a rede municipal de órgãos protetivos, referenciados pelo CREAS, e poder judiciário, bem como do processo de ampliação do plano de políticas públicas da atual gestão.

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