Tarifaço de Trump: taxas de 50% contra o Brasil entram em vigor nesta quarta-feira

Entrou em vigor nesta quarta-feira (6) a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre parte das exportações brasileiras. A medida, assinada pelo presidente americano Donald Trump, impacta diretamente 36% dos produtos enviados ao mercado norte-americano, como carnes, café, etanol, aço, alumínio, autopeças e máquinas agrícolas — setores considerados estratégicos para a balança comercial brasileira.

Apesar do impacto expressivo, o decreto prevê quase 700 exceções, o que isenta cerca de 43% do valor exportado pelo Brasil. Produtos como petróleo, suco de laranja, aeronaves civis, veículos e fertilizantes ficaram fora da lista de sobretaxas.

O tarifaço é consequência de uma escalada política e diplomática. Em comunicado oficial, a Casa Branca acusa o governo brasileiro de adotar práticas que violariam direitos humanos, liberdade de expressão e a segurança de empresas e cidadãos americanos. O texto menciona diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e cita processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados como fatores determinantes para a decisão.

A retaliação também inclui o bloqueio de vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal, como Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e outros. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, também foi alvo de sanções. Segundo Trump, o objetivo é proteger os interesses dos Estados Unidos diante do que chama de “censura forçada e perseguição política”.

Resposta brasileira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou o tarifaço como desproporcional e politizado. Ele afirmou que o Brasil continuará buscando diálogo com os EUA, mas descartou uma ligação imediata a Trump. “Eu não vou ligar para o Trump para comercializar porque ele não quer falar. Mas eu vou ligar para convidá-lo para a COP, porque quero saber o que ele pensa da questão climática”, disse Lula, durante evento no Itamaraty.

Enquanto as negociações permanecem travadas, o governo brasileiro prepara um plano de contingência para mitigar os impactos das tarifas. Em reunião com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Luiz Marinho (Trabalho), Rui Costa (Casa Civil) e com o vice-presidente Geraldo Alckmin, foram discutidas as seguintes medidas:

  • Linhas de crédito emergenciais para pequenos produtores exportadores;
  • Compras governamentais para escoar a produção afetada;
  • Reativação do Programa Seguro-Emprego, com redução temporária de jornada e salários;
  • Ampliação do Reintegra, que devolve tributos a empresas exportadoras;
  • Subsídios, prazos estendidos e juros diferenciados via BNDES e Banco do Brasil.

Segundo Alckmin, o foco do plano é preservar empregos e garantir liquidez às empresas atingidas. Já Haddad reforçou que o Brasil não deixará a mesa de negociações e que pretende “despolitizar” o tema em conversa com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, prevista para esta semana.

Repercussão e próximos passos

A medida foi recebida com preocupação por analistas e empresários brasileiros. Para o economista-chefe da Blue3 Investimentos, Roberto Simioni, o momento exige uma resposta estratégica: “O Brasil precisa diversificar mercados, buscar inovação e agregar valor à sua pauta exportadora. Essa dependência excessiva dos EUA deixa o país vulnerável.”

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também se manifestou, afirmando que o governo avalia medidas de apoio financeiro e que parte das ações dependerá da atuação dos bancos públicos.

Nos bastidores, o governo brasileiro também estuda acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a medida, mas aguarda uma decisão direta do presidente Lula sobre o momento ideal para esse movimento.

Enquanto isso, o setor exportador tenta se adaptar ao novo cenário, buscando redirecionar parte da produção para mercados como China, União Europeia e países asiáticos.

Impacto comercial

As exportações brasileiras para os Estados Unidos representam 12% da balança comercial do país. Com o tarifaço, cerca de 4% do total exportado foram atingidos diretamente — um percentual que pode parecer modesto, mas que se concentra em setores de alto valor agregado e que enfrentam dificuldade para redirecionar a produção em curto prazo.

O cenário ainda é incerto, mas analistas apontam que o tarifaço tem potencial de gerar efeitos duradouros tanto no comércio quanto na geopolítica entre os dois países.

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