Na semana passada, momentos antes de embarcar para o Japão, o presidente Lula, eufórico, anunciou nas redes sociais aquilo que parecia, para ele, a “redescoberta da pólvora ou da roda”. Em um vídeo, declarou entusiasmado: “Você que é CLT, empregado e empregada de MEI, trabalhador e trabalhadora doméstica ou assalariado rural: a partir de hoje já está disponível o #CréditoDoTrabalhador no seu aplicativo oficial da Carteira de Trabalho digital. 47 milhões de pessoas já podem acessar crédito consignado para reforma, comprar geladeira, fogão…”.
O Paradoxo do Empréstimo: Pagando Juros Sobre o Próprio Dinheiro
A euforia do governo, no entanto, esconde uma realidade preocupante. O programa permite que os trabalhadores utilizem até 10% do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia para o empréstimo. Ou seja, um dinheiro que já pertence ao trabalhador passa a ser usado como colateral, e o pior: com juros que variam entre 5% e 6% ao mês, chegando a taxas anuais que podem ultrapassar 200%. No fim das contas, quem se beneficia desse modelo? Bancos e o próprio governo, que aposta na injeção de dinheiro para melhorar artificialmente a economia.
A Propaganda do “Empréstimo do Lula” e a Tentativa de Recuperar Popularidade
Não demorou para que o marketing político entrasse em cena. A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, publicou um vídeo chamando a medida de “empréstimo do Lula”, em uma clara tentativa de personalizar a iniciativa e transformar o presidente em uma espécie de “financiador do povo”. O problema? A estratégia não pegou bem. A repercussão negativa foi imediata, e diante das críticas, especialmente do partido Novo, a ministra apagou a publicação. A sigla, inclusive, acionou o Tribunal de Contas da União (TCU), alegando uso eleitoral indevido do programa.
Juros Elevados e Comprometimento Salarial
A realidade do trabalhador brasileiro torna essa proposta ainda mais perigosa. Com 76,1% das famílias endividadas e os preços dos alimentos em alta – a ponto de muitos sequer conseguirem comprar ovos – o crédito consignado pode ser um caminho sem volta para a inadimplência. Além disso, o programa permite o comprometimento de até 35% do salário com empréstimos, reduzindo ainda mais a margem de manobra financeira de milhões de brasileiros.
Benefício para os Bancos e Potencial Aumento da Inflação
Enquanto o governo tenta vender o “Crédito do Trabalhador” como um benefício para a população, os grandes bancos são os reais ganhadores. O programa movimenta bilhões em novas operações de crédito, garantindo lucros astronômicos para o setor financeiro. Paralelamente, ao injetar mais dinheiro na economia sem um planejamento estruturado, o governo corre o risco de alimentar a inflação, corroendo ainda mais o poder de compra da população.
Considerações Finais
O “Crédito do Trabalhador” se apresenta como um alívio imediato, mas pode se transformar em uma armadilha financeira a longo prazo. Enquanto o governo busca reverter sua popularidade em queda, o trabalhador se vê diante de mais uma medida que, em vez de aliviar sua situação econômica, pode aprofundar sua dependência do crédito e agravar sua instabilidade financeira.